domingo, 31 de outubro de 2010

nao é feito pra dar certo

Ele me pegou em casa a contragosto. Esbravejando. Xingando. Eu ri. Achei graça. Mudei de estação na rádio. O teu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer. Tava tocando isso. E eu nem aí.
No banco de trás um casaquinho verde musgo tamanho PP. De alguma garota da noite anterior. Ou da semana passada. Ele é cheio de garotas e pela primeira vez na vida sorri ao pensar isso. Tá certo ele. Bonitão, rico, engraçado e safado. Que mulher não se apaixona por ele?
Eu. Eu não me apaixono mais por ele. O que significa que agora podemos nos relacionar. O que significa que agora, posso ficar tranquilamente ao lado dele sem odiar meu cabelo e minha bunda e minha loucura. E posso vê-lo literalmente duas vezes ao ano, sem achar que duas vezes na semana são duas vezes ao ano. E posso vê-lo ir embora, sem me desmanchar ou querer abraçar meu porteiro e chorar. Consigo até dar tchauzinho do portão. Tchau, vou comer um pedaço de torta de nozes e assoviar. Tchau, querido mais um ser humano do planeta.
Passamos no CEASA pra comprar caixotes podres de feira. Última moda em decoração de bibliotecas. Ele briga comigo, que pobre que você é, Isa. Mau gosto da porra. E diz que eu não sei tratar gente simples, que chego falando difícil de propósito. Eu não fiz nada disso, mas tô nem aí de me explicar ou convencê-lo do contrário. Morro de rir. Se eu o amasse, sentaria no chão e começaria a chorar. Por favor! Goste de mim! Por favor! Como assim eu não sei tratar gente simples? Eu ia ficar com isso na cabeça um mês. Ia aumentar a terapia em três vezes por semana. Ia fazer um curso na Casa do Saber de como falar com feirantes em final de expediente. Ia querer morrer. Mas apenas ri e continuei na minha missão de tomar garapa. Se eu o amasse, ia morrer de medo de passar mal de dor de barriga por causa da garapa. Ou dele me achar brega por causa da garapa. Mas como não tô nem aí, nem lembro que tenho barriga. E o feirante tentando entender o que era fashion. E eu arrotando internamente, sabor garapa.
Depois fomos à Bienal. Eu fiquei com nojo de colocar as luvinhas para ver as fotos. Porque o mundo todo usou aquelas luvinhas não descartáveis. E ele me olhando com preguiça. Ai, Isa, como você é fresca. E eu assumi minha frescura e o larguei falando sozinho. Se eu estivesse apaixonada, ia bolar milhares de motivos mirabolantes para lhe explicar meus motivos em não querer usar a luvinha. Ia entrar na lenga lenga insuportável de pedir desculpas por ser como sou, como se isso tivesse explicação ou desculpas ou salvação. Teria morrido, ou melhor, o matado, porque não suporto olhares de preguiça e reprovação. Teria perguntando, ainda que inconscientemente, o que fazer, naquele fim de tarde, para ser absolutamente perfeita. Me odiando e odiando ele por me sentir assim, uma imbecil. Mas não, apenas fui ver as fotos. Ele me achar fresca e uma barrinha de cereal sabor artificial de banana tem o mesmo poder sobre mim. Nenhum.
No final do dia fomos até a casa de uns amigos dele. E eu lá, pela primeira vez na vida, gostando dos amigos dele, tratando todo mundo bem. Rindo pra caramba daquele monte de besteira. Ficando amiga das garotas de 20 anos com sombra roxa nos olhos. A galera que vai em peso para âa praia do momento para quem quer pertencer a algo que todos querem pertencer mas não sabem bem o que éâ. E ele me olhando de longe. Ah, se ela tivesse agido assim. Tão normal, tão simpática, tão leve, tão boa companhia. Ao invés daqueles surtos de ciúme, daquelas cobranças por mais intensidade, daquela necessidade em acordar de madrugada com medo da vida, daquela arrogância pra cima de mim e dos meus amigos que não sabiam conversar de livros, filmes, músicas e dor na alma. Se ela tivesse confiado assim no taco dela. E sorrido mais. Se ela tivesse me amado sem amar. Ou como amam as pessoas que conseguem se relacionar. E eu lá, sendo adorada por ele, justamente porque não o adoro mais. Ô vidinha filha da puta.
No final do dia, a frase que eu temia. âQuer fazer alguma coisa amanhã?â. Eu sabia. Toda mulher feliz e equilibrada deixa saudades. Mas eu não queria. Eu só queria amar alguém, com toda a tristeza e desequilíbrio que vem junto com isso, e continuar deixando saudades.
Quando dizem que namoro ou casamento ou qualquer relacionamento mais sério não pode dar certo, eu discordo. O que definitivamente não dá certo, ao menos para mim, é se apaixonar. Agora, que graça tem fazer qualquer coisa da vida sem estar apaixonada? Ô vidinha filha da puta.

(+) frase

Sei que quando o sentimento acaba, a pessoa continua. Só ainda não aprendi a aceitar isso.

@segredodegarota

frase do dia

Talvez eu seja apenas mais um talvez, tentando ser certeza. Tentando ser para sempre, e parando sempre pela metade.


@segredodegarota

sábado, 30 de outubro de 2010

(trecho)

Porque ninguém se mantém interessante ou mágico. Mas a gente espera, lá no fundo,
perdido, soterrado e cansado, que a vida compense de alguma maneira. E a gente ganha
dinheiro, compra roupa, aprende novas piadas, passa protetor labial. Só pra que a vida
compense em algum momento. Só pra ganhar a coceguinha no coração. Coração burro,
tadinho. Que preguiça desse coração burro. E a pessoinha mortal e cheia de motivinhos
legais pra ser feliz segue aprisionada por essa falta de alma. E minhas coisas vão se
acumulando. E não há nada que eu possa fazer sem minha alma. A agenda vagabunda
me espera, com datas, esperanças e meios de ganhar dinheiro. E eu estou no escuro,
com uma leve impressão de que preciso voltar para a vida, porque a vida está acumulando
e depois eu não vou dar mais conta de ser eu. Mas que preguiça de ser esse eu aí. Esse
ser cheio de vontades, certezas e vidas na ponta da caneta. Eu me espero como uma
boneca murcha, ensacada pela minha falta de alma.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

estalo

(..) E de repente tão de repente chegando a ser assustador, ele reapareceu. Depois de tanto tempo esquecido na escuridão do meu coração. E chegou tão igual e tão diferente. Sua voz doce e pervesa soando como música clássica aos ouvidos causando arrepios na alma. Aquele cheiro de pele a muito tempo impregnado em mim. E em algum momento ele dissenossa como você está diferente. Perguntei diferente como? Ele disse não sei talvez oolhar.


frase do dia

Procurou uma fuga dentro e fora se encontrando estática por todos os lados...

Extremos da Paixão

"Não, meu bem, não adianta bancar o distante

lá vem o amor nos dilacerar de novo..."

Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-
-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos.

Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolosem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

(in Pequenas Epifanias)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

do caio

Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas.

sobre C e E

Você disse “Oi”; eu respondi.

Você não tinha mais cigarros; eu ofereci.

Você queria andar; corremos.

Você queria beijar; eu também.

Você tinha medo; eu não.

Você tinha algo; eu não tinha ninguém.

Você me beijou. Você me beijou.

Eu queria beijar; você não sabia mais.

Eu queria correr, você fugiu.

Eu tinha você; você não queria nada.

Eu disse “Oi”; você disse “Adeus”.

Eu tenho tantos cigarros; você nem fuma mais.

Queria que você ligasse; você não ligou.

Queria que você falasse; você se calou.

Queria que o tempo passasse; você voou.

A: Vamos nos encontrar?

B: Já nos encontramos. Inclusive, já nos perdemos.

A: Vamos tentar!

B: Já tentamos, mais de uma vez. Vamos parar por aqui?

A: Estamos parados há muito tempo.

B: Então, vamos deixar tudo como está.

A: Não podemos. Já mudamos tudo.

B: Vamos fazer o quê?

A: Não sei, me liga.

eu sei

A: De onde paramos?

B: Nunca paramos.

A: Conversas repetitivas…

B: Vida repetitiva.

A: Cadê voce?

B: No mesmo lugar.

A: Quem é você?

B: A mesma pessoa.

A: Eu cansei.

B: Do quê? Nem começamos.

A: Temos algo pra começar?

B: Para. Já acabamos com isso.

A: Acabamos com o quê?

B: Com o encanto.

A: Perdeu encanto?

B: Se transformou em nostalgia.

A: Você não me pergunta nada, nunca.

B: Cadê voce?

A: Te procurando.

B: Quem é você?

A: Não sei.

frase do dia

— Sabe o que é bom nos corações partidos? — Eu assenti que não. — Eles só podem se partir de verdade uma vez .. o resto, são apenas aranhoes.


- Livro: O jogo do anjo



quinta-feira, 21 de outubro de 2010

musicas

Então vá e afaste-se de mim, adote alguma nova filosofia que não guarde nós dois em mente..

- John Mayer

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Talvez você diga que eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Desejo que um dia você se junte a nós
E o mundo, então, será como um só -

John Lennon

frase do dia

Vivemos num mundo onde nos escondemos para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia.



John Lennon

video

terça-feira, 19 de outubro de 2010

frase do dia

É burro cantar coisas que eu, tu, ele, nós sentimos? É brega ter desejos e carências e dores e suspiros assim, de gente?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

(+) frases

Eu mais uma vez me pergunto como é mesmo que se faz a coisa mais profunda do mundo com total superficialidade. Como é que se ama sem amor? Como é que se entrega de dentro de uma prisão? Nunca soube.

(+) frases

Sacudir você e dizer que você é um otário porque está me perdendo dessa maneira.

frase do dia

Se não for hoje, um dia será. Algumas coisas, por mais impossíveis e malucas que pareçam, a gente sabe, bem no fundo, que foram feitas pra um dia dar certo.

do caio

Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou.

- Trecho - Do outro lado da tarde, Caio Fernando Abreu

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do caio

Tentaram me fazer acreditar que o amor não existe e que sonhos estão fora de moda. Cavaram um buraco bem fundo e tentaram enterrar todos os meus desejos, um a um, como fizeram com os deles. Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos. Em construir castelos sem pensar nos ventos. Em buscar verdades enquanto elas tentam fugir de mim. A manter meu buquê de sorrisos no rosto, sem perder a vontade de antes. Porque aprendi, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo. Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

frase do dia

Mas essa coisa chamada vida onde estamos metidos até o pescoço, às vezes também não é brega, careta, melodramática?

conto

- Que árvore era essa?
- Não era uma, eram duas. Espera, eu conto. Você quer ouvir?
Apressada, ela fez que sim com a cabeça. Sem ver direito o rosto dele, percebeu que sorria talvez irônico. Ou amargo, ou triste, ou apenas distante, compreendeu melhor, encolhendo-se contra a guarda da cama. E aquilo de repente pareceu talvez respeito, submissão ou interesse, porque ele começou a falar:
- No começo, achei que era uma árvore só. Eu a vi de longe, eu vinha caminhando e lá estava ela, enorme, toda florida, assim com pencas de flores de todas as cores, mas acho que principalmente roxas e amarelas, despencando até o chão. Não parecia de verdade, parecia uma coisa desenhada, assim meio de quadro, de ilustração de história infantil, filme de Walt Disney. Sabe Branca de Neve? - Ela sorriu também, cruzando os braços sobre os seios tranqüilizada. Ele não percebeu. - Uma árvore assim, de fantasia. A mais bonita que eu já tinha visto em toda a minha vida. Aí eu parei e fiquei olhando. Tinha uma coisa forte ali me chamando e eu não conseguia ir em frente, eu devo ter hesitado muito tempo antes de chegar cada vez mais perto, e de repente eu estava dentro dela. Não, espera, não foi assim. Entre os ramos cobertos de flores havia uma espécie de vão, uma fresta, uma porta, e eu fui entrando por ela até ficar dentro daquela coisa colorida. Era escuro lá dentro. Era cheio de galhos trançados e torturados, e muito escuro, e muito úmido, parecia assim ter feito uma grande dor ali cravada naquele centro cheio de folhas apodrecidas e flores murchas no chão. Pelo vão, pela fresta, pela porta eu conseguia ver o sol lá fora. Mas aquele lugar era longe do sol. Era uma coisa, uma coisa assim desesperada e medonha, você me entende? Então pensei em sair lá de dentro imediatamente, sem olhar para trás, mas ao mesmo tempo que queria ir embora, queria também ficar para sempre lá, e se me descuidasse, se alguma coisa mínima em mim perdesse o controle eu me encolheria ali naquele chão frio, olhando os galhos tão emaranhados que não passava nunca um fio daquela luz do sol lá de fora. Eu fui embora, eu não queria olhar para trás, mas sem querer olhei e lá estava ela de novo como eu a tinha visto da primeira vez.
Uma árvore encantada, dessas que você pode fazer pedidos e talvez entrar num estado especial embaixo dela e ver, como se chamam, como é mesmo? os devas, isso, os devas, as ninfas, os faunos. Vista de fora, de onde eu estava, era uma árvore assim, com um lindo deva que eu quase via, roxo e amarelo como as flores, meio que dançando, quem sabe tocando flauta em volta dela. Então lembrei do escuro e achei que entendia e sem querer formulei com dificuldade uma coisa mais ou menos assim: é daquele emaranhado cheio de dor e angústia fria e solidão escura que ela arranca essa beleza que joga para fora. - Ele parecia muito cansado quando parou de falar e perguntou: - Você entende?
- Foi lá? - ela perguntou bruta. Ele não respondeu. Ela estendeu a mão para o maço de cigarros, acendeu outro que tragou quase com fúria. Passou-o para a mão esquerda e estendeu a direita para ele, cravando as unhas em seu braço. - Foi lá? - repetiu. - Eu preciso saber. Me diga, foi lá, naquele lugar? Meu Deus, você ainda não esqueceu aquele maldito lugar?
Como se não tivesse escutado, ele tocou de manso as unhas cravadas em seu braço com a mão também grande e quieta.
- Você entende?
Ela relaxou a pressão.
- Entendo, claro que entendo. - Recolheu a mão, baixou a voz. - É uma história bonita. E tão... tão simbólica, não é? - Suspirou, exausta. - É assim que você se sente? Eu entendo, claro que eu entendo muito bem, melhor do que você possa imaginar. Muito melhor, meu bem. - Passou devagar os dedos sobre os pêlos crespos do peito dele. Se houvesse mais luz, agora poderia ver os pêlos se adensando grisalhos em direção ao umbigo, e quem sabe até mesmo sentir então o que sentia sempre: aquela espécie de piedade comovida, semelhante a algo que tinham dito, certa vez, chamar-se carinho, ternura, amor ou qualquer outra coisa dessas. Mas no escuro, apenas sentindo os pêlos macios e frágeis cedendo sob a pressão das pontas de seus dedos, assim, agora: não sentia nada. Uma secura como a do cigarro que tragou novamente, queimando com raiva a garganta. Tossiu.
- Mas não acabou - ele disse.
- O quê?
- Não acabou, a história ainda não acabou.
Ela percebeu que ele ria. Mas já não havia tristeza nem ironia no riso. Qualquer coisa mais densa, localizou. E retirou a mão do peito dele ao descobrir. Era um riso silencioso e mau, um riso de canto de boca, dentes cerrados que não se mostram. Ele estava próximo agora, inteiramente ali, entre o corpo dela e a porta do quarto dando para corredores e salas subitamente tão desertos que ninguém os ouviria se gritassem. Mas não gritariam, ela acalmou-se, que era tanto tempo, tanta coisa vivida juntos, não, não gritariam. Ele continuou a falar:
- Voltei lá no dia seguinte. Eu estava frio, eu não sentia coisa alguma, eu não tinha mais aquele horror de estar dentro da árvore nem aquele encantamento de estar fora dela, entende? Então fiquei andando em volta dela e olhando bem, até perceber que eram duas árvores. Sabe uma dessas árvores que dá na beira dos rios? Essa caída, de galhos até o chão, uma árvore grande que parece sempre cansada e triste.
- Um chorão - ela falou. - Um salgueiro. - E soltou os ombros, quase leve.
- Isso. Um salgueiro, um chorão. A outra, aquela cheia de flores, era uma primavera. Eu lembrei então de uns versos que você gostava de dizer, faz muito tempo. Como eram mesmo aqueles versos que falavam em primaveras, em morrer, em nascer de novo? Como eram, você lembra? - ele perguntou subitamente ansioso e meio infantil, puxando-a pelo pé como fazia às vezes nas manhãs de domingo, quando ela demorava a acordar e ele insistia cantando cantigas inventadas num ritmo de caixinha de música: Venha ver o sol oh meu amor! vista sua saia, vamos para a praia! o dia está tão lindo oh meu amor! hoje é domingo lindo de sol.
Uma onda quente feito uma alegria subiu desde o pé onde ele tocava até o rosto dela, fazendo os seios arfarem um pouco ao dizer:
- Cecília Meireles, era Cecília Meireles, era um poema assim que eu dizia: “Levai-me por onde quiserdes! aprendi com as primaveras a deixar-me cortar! e a voltar sempre inteira”.
Ele apagou o cigarro. Depois bateu palmas como uma criança:
- Que bonito, que bonito. Como é mesmo? - E recitaram juntos, como uma professora séria e um pouco velha e paciente e vagamente apaixonada por um aluno rebelde: “Levai-me por onde quiserdes! aprendi com as primaveras a deixar-me cortar! e a voltar sempre inteira”.
De repente ele deu um salto sobre a cama e ficou em cima dela, rindo enquanto enfiava a língua morna nas suas orelhas. Sobre a camisola, ela podia sentir os músculos duros das coxas dele apertadas contra as suas.
- Era um caso de amor - ele disse baixinho no ouvido dela. - O salgueiro e a primavera, era um lindo caso de amor entre duas árvores.
Ela trançou as mãos nas costas dele, aquelas costas largas de homem grande, aquele cheiro bom de bicho limpo que ela conhecia fundo, há tanto tempo. E enquanto ele roçava lento uma boca móvel e molhada pelo seu pescoço, ela abriu suave as pernas, rodando a bacia como numa dança oriental, até sentir o volume do sexo dele enrijecendo aos poucos sobre seu ventre. Desceu a mão pela cintura dele, para enfiá-la sob o tecido fino do pijama, acariciando a bunda que se movia sobre ela. E lambeu aquelas orelhas grandes de homem tão profundamente e há tanto tempo seu, intensificando os movimentos até o membro dele ficar tão rígido que escapou de dentro do pijama para roçar, quente, a barriga dela.
- Vem - pediu. - Meu menino louco.
Mas ele levantou-se tão brusco que a súbita ausência de peso fez com que ela sentisse uma espécie de tontura.
- Não - ele disse. - E recuou outra vez até a ponta da cama. - A história ainda não terminou.
- Ai, Deus, a maldita árvore de novo?
- A maldita árvore - ele repetiu lentamente.
- Mas ainda? - ela tentou rir, mas ele estava distante outra vez. De repente alguma coisa tinha se transformado em outra, e percebendo a transformação só depois de falar como se nada tivesse se transformado, ela sabia apenas se comportar de acordo com um momento antigo, não com este novo, desconhecido. - Então conta - pediu, sabendo de maneira obscura que não era assim, que não era mais assim, que de alguma forma nunca mais seria assim. Cruzou os braços como quem fala com uma criança. - Mas conta rápido.
- Bem rápido, não se preocupe. No outro dia, o terceiro dia, eu voltei lá. Foi a última vez que voltei. Não foi preciso voltar mais. E dessa última vez, eu vi tudo. Eu descobri.
A claridade cinza do dia nascendo varava as frestas da persiana.
- Então? - ela perguntou. - E aí?
O homem pegou a caixinha de música e ficou com ela entre as mãos, como se fosse tocar. Com a luz mortiça da manhã iluminando o rosto dele, ela agora podia ver os olhos muito abertos, fixos em algo que ela não via, a barba por fazer, a mão parada no ar e o grisalho dos pêlos no peito. E continuava sem sentir nada, a não ser um calor fugindo entre as coxas.
Ele não dizia nada.
- O que foi que você descobriu?
Ele sorriu sem mover músculo algum do rosto. Apenas os cantos da boca ergueram-se rápidos, como se alguém apertasse um botão ou puxasse um fio oculto. Girou nas mãos a caixinha.
- Descobri que não era um caso de amor, O salgueiro estava seco, morto. A primavera tinha assassinado ele. Não era um caso de amor. Ela estrangulou, vampirizou, assassinou ele. Aquela escuridão de dentro era a fraqueza dele, o fracasso dele, a morte dele. Você está me entendendo? Eu vou falar bem devagar para que você compreenda: aquela loucura de flores e cores do lado de fora era a vitória dela. A vitória da vaidade dela às custas da vida dele. Uma vitória louca, você está ouvindo?
Como se tivesse frio, ela encolheu-se violentamente. Sem querer, olhou para o lado e viu o relógio. Eram cinco e quinze da manhã. Ele repetiu:
- Uma vitória louca, uma vitória doente. Não era amor. Aquilo era solidão e loucura, podridão e morte. Não era um caso de amor. Amor não tem nada a ver com isso. Ela era uma parasita. Ela o matou porque era uma parasita. Porque não conseguia viver sozinha. Ela o sugou como um vampiro, até a última gota, para que pudesse exibir ao mundo aquelas flores roxas e amarelas. Aquelas flores imundas. Aquelas flores nojentas. Amor não mata. Não destrói, não é assim. Aquilo era outra coisa. Aquilo é ódio.
Muito calma e um tanto casual, acendendo outro cigarro, afastando uma mecha de cabelos da testa um pouco fria, um pouco suada, mas nada de grave, a mulher ergueu levemente a sobrancelha esquerda, num gesto muito seu, um gesto cotidiano, habitual e sem novidades, que usava muito ao fazer compras, indagando preços, ao estender uma xícara de chá, ao dar ordens à empregada, ao girar o botão ligando o televisor, e perguntou absolutamente tranqüila, absolutamente controlada, absolutamente segura de si:
- Você está querendo dizer que acha que eu o destruí?
- Como?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

pelo caio

Eu gostaria de ir embora para uma cidade qualquer, bem longe daqui, onde ninguém me conhecesse, onde não me tratassem com consideração apenas por eu ser “o filho de fulano” ou “o neto de beltrano”. Onde eu pudesse experimentar por mim mesmo as minhas asas para descobrir, enfim, se elas são realmente fortes como imagino. E se não forem, mesmo que quebrassem ao primeiro vôo, mesmo que após um certo tempo eu voltasse derrotado, ferido, humilhado - mesmo assim restaria o consolo de ter descoberto que valho o que sou .

sábado, 9 de outubro de 2010

(+) frase

não diferencio os cogumelos
venenosos dos sadios
os inços das ervas curativas.
como descobrir
o que mata
sem morrer um pouco por vez?

frase do dia

Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica, psicanálise, drogas, acupuntura, suicídio, ioga, dança, natação, cooper, astrologia, patins, marxismo, candomblé, boate gay, ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora o que faço?

do caio

E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar .

terça-feira, 5 de outubro de 2010

frase do dia

Gosto das tuas notícias e do teu feeling. O amor tá solto no ar de setembro e já vimos tanta coisa e já sabemos de tantas. Ando cheio de fé.

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trecho

Meu sofrimento não tinha fim, mas foi interrompido pela salsa eletrônica do meu novo celular rosa. Era ele do outro lado: “Conversa comigo? Tô sem sono…”
Eu sabia, eu sabia, nem todas as “sultãonetes” do mundo eram capazes de dar a ele o que eu dava. Ainda que meu coração fosse um só.

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frase do dia

Eu ia sentir uma baita falta dele.
Mas eu disse que não, eu disse depressa que não..

no centro do furacão

Vórtice, voragem, vertigem: qualquer abismo nas estrelas de papel brilhante no teto.

Queria tanto poder usar a palavra voragem. Poder não, não quero poder nenhum, queria saber. Saber não, não quero saber nada, queria conseguir. Conseguir também não - sem esforço, é como eu queria. Queria sentir, tão dentro, tão fundo que quando ela, a palavra, viesse à tona, desviaria da razão evitaria o intelecto para corromper o ar com seu som perverso. A-racional, abismal. Não me basta escrevê-la - que estou escrevendo agora e sou capaz de encher pilhas de papel repetindo voragem voragem voragem voragem voragem voragem voragem sete vezes ao infinito até perder o sentido e nada mais significar - não é dessa forma que eu a desejo. Ah essa palavra de desgrenhados cabelos, enormes olhos e trêmulas mãos. Melodramática palavra, de voz roiuca igual à daquelas mulheres que, como dizia John Fante, só a adquirem depois de muitos conhaques e muitos cigarros. Eu quero sê-la, voragem.
Espio no dicionário seu significado oficial, tentativa inútil de exorcizar o encantamento maligno. O que leio, inquieta ainda mais: "Aquilo que sorve ou devora". E vejo um redemoinho lamacento de areias movediças à superfície do qual uma única mão se crispa. Vórtice, penso, numa vertigem. Repito, hipnotizado: vertigem, vórtice, voragem. "Qualquer abismo" - continuo a ler. Os abismos de rosas, os abismos de urzes, e aqueles abismos à beira do qual duas crianças correm perigo, protegidas pelas sas do Anjo da Guarda. Os abismos de estrelas falsas no falso céu do teto do meu quarto, os abismos de beijos e desejos, o abismo onde se detém o rei daquela história zen para abrir o anel que lhe deu o monge, onde está guardado o condão capaz de salvá-lo - e o condão é a frase: "isto tambèm passará". Sim, leio então: "Tudo que subverte ou consome" - paixões, ideologias, ódios, feitiçarias, vocações, ilusões, morte e vida. Essas outras palavras de maiúsculas implícitas - vorazes, voragem -, abismais.

Eu estava lá, no centro do furacão. E repito as palavras que são e não são minhas enquanto o porteiro do edifício em frente toca violão e canta, e a chuva desaba outra vez, e peço: por favor, me socorre, me socorre que hoje estou sentido e português, lusitano e melancólico. Me ajuda que hoje eu tenho certeza absoluta que já fui Pessoa ou Virgínia Woolf em outras vidas, e filosófo em tupi-guarani, enganado pelos búzios, pelas cartas, pelos astros, pelas fadas. Me puxa para fora deste túnel, me mostra p caminho para baixo da quaresmeira em flor que eu quero encostar em seu tronco o lótus de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta para sair de mim e respirar aliviado de por um instante não ser mais eu, que hoje não me suporto nem me perdôo de ser como sou e não ter solução. Me ajuda, peço, quando Excalibur afunda sem volta no lago.
Ela se debruça sobre mim, me beija com sua grande boca vermelha movediça. Tenho medo mas abro minha boca para me perder.
Ela repete baixinho em meus ouvidos nomes cheios de sangue - Galizia, Ana Cristina, Júlio Barroso - enquanto contemplo o céu no teto do meu quarto, girando intergaláctico em direção a ER-8, a estrela de 10 bilhões de anos, o cadáver insepulto para sempre da estrela perdida nos confins do Universo. Choro sozinho no escuro, você não enxuga as minhas lágrimas. Você não quer ver a minha infância. Solto nesse abismo onde só brilham as estrelas de papel no teto, desguardado do anjo com suas mornas asas abertas. Você não me ouve nem me vê, e se ouvisse e visse não compreenderia quando eu abrir os braços para Ela e saudar, amável e desesperado como quem dá boas-vindas ao terror consentido: voragem, voragem.
Voragem, vórtice, vertigem: ego. Farpas e trapos. Quero um solo de guitarra rasgando a madrugada. Te espero aqui onde estou, abismo, no centro do furacão. Em movimento, águas .

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

do caio

Apenas já não somos mais crianças e desaprendemos a cantar. As cartas continuam queimando. Eu tentei pensar em Deus. Mas Deus morreu faz muito tempo. Talvez se tenha ido junto com o sol, com o calor. Pensei que talvez o sol, o calor e Deus pudessem voltar de repente, no momento exato em que a última chama se desfizer e alguém esboçar o primeiro gesto. Mas eles não voltaraão. Seria bonito, e as coisas bonitas já não acontecem mais.

domingo, 3 de outubro de 2010

(+) frases

Não deixo de acreditar nas coisas porque não existem. Eu também posso me inventar para elas.

- Fabrício Carpinejar

(+) frases

O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
- Fabrício Carpinejar

greys anatomy

Muitas vezes, a coisa que a gente mais quer, é a coisa que não pode ter.
O desejo deixa nosso coração em pedaços,nos exaura... o desejo pode acabar com a nossa vida.
Só que por mais sofrido que seja querer, as pessoas que mais sofrem.. são as que não sabem o que querem!

melancolia

Falar de melancolia é fácil. Os dicionários estão recheadíssimos de palavras bonitas que tendem tristes a explicar o sofrimento dos outros. O difícil é falar da alegria. Alegria que pode ser felicidade momentânea, mas quase não tem sinônimos na literatura. O estar bem não inspira, não vira música nem poesia. Estar triste é sentimento premiado no Oscar de melhor drama, é realidade inventada para vencer o tédio que é ser comum e não ter do que reclamar.

Verônica H.

o ator

Estou dentro do carro há vinte minutos e ele não desce. Ligo e ele não atende. Ele sabe que estou aqui, eu disse que estava saindo. Ele então aparece, colocando o cinto na calça. Vejo um pedaço da barriga. Ele entra no carro e aperta meu braço. Eu vejo um pedaço do calcanhar. Eu vejo um pedaço da nuca e ela está vermelha, coisa de quem se enxugou rápido porque ficou enrolando pra tomar banho. Eu tenho um impulso de enfiar minha cara inteira dentro da camisa dele pra cheirar o centro do seu peito. Onde mistura o cheiro do amaciante, dos pelos e do desodorante que parece ter o cheiro das testosteronas dos deuses. Quando se está com um homem assim, eu lembro “meu deus, como eu gosto disso”. Eu não gosto de trabalhar, eu não gosto de mais da metade de tudo que eu como, eu não gosto de falar ao telefone, eu não gosto de ser paquerada, eu não gosto de festa de família, eu não gosto de acordar, eu não gosto de pagar conta, eu não gosto de muito mais da metade das pessoas que comprimento, eu não gosto das minhas roupas, eu não gosto de 80% dos papos que as pessoas querem começar comigo, eu não gosto de colocar o umbigo nas costas na aula de yoga, da minha vizinha que está sempre berrando com alguém ao telefone, eu não gosto da louça, do pessoal que me pergunta como faz pra trabalhar num sei onde, de listas de presentes. Mas eu gosto disso, eu vivo pra isso, eu acordo pra isso, eu trabalho pra isso, eu tomo banho pra isso. Isso é: esse momento em que eu coloco minha cabeça numa caixinha e sou inteira um animal predador que pode matar pra ter o que comer ao final. O cabelo dele é muito cabelo.

Ele tem uma covinha na expressão da boca. Não é onde as pessoas graciosas tem. É na expressão do sorriso. Ele parece desenhado por alguém minuciosamente grosseiro. Ele então começa seu festival de me adores. Ele é ator. E começa então com seu festival de me adores. Ele quer ser adorado. Ele tem mulheres mais bonitas e o que tenho de melhor ele nem tem muita capacidade mental pra valorizar. Mas ele sabe que tenho algo diferente e que é legal ser adorado por uma garota que tem algo de diferente. E eu o adoro. Ele fala sobre o horário da madrugada que acordamos com um frio no estômago. É um texto que recebeu e tem que decorar para uma leitura. Ele não consegue explicar nada sobre o texto. Ele me pergunta porque almoçar é com ç e almocei não. E isso, dito por um deus grego, me parece um tratado profundo sobre a humanidade. Não importa, amor. Basta saber que seu gigantesco ombro ultrapassa os limites do banco do carona e vai o caminho inteiro roçando em mim. Ele se demora no cardápio. Ele adora as refeições semanais nas quais uma garota com olhos enormes pra cima dele, presta atenção quase que religiosa a tanta baboseira. Ele conta em detalhes sobre a peça e a outra peça e a novela e o filme e as famosas todas que ligam pra ele o tempo todo e os produtores e esse papo que nunca quer dizer nada a não ser sobre ele próprio enquanto ator. Eu escuto nononononononononono. Não, não é isso. Eu escuto música clássica.

E torço para que o tormento acabe logo. Vamos logo pra casa. Me conte tudo isso pelado, que tal? Eu juro que escuto tudo, dou minha opinião e de repente até te escrevo uma peça inteira na qual você, nu…Eu só penso nele pelado. Ele é uma linda moça chata e eu um macho encantado pelo filme mais lindo do cinema mudo. Enquanto ele tenta concluir frases, eu me pego pensando “se ele não quiser ir pra minha casa, não vou pagar a droga da conta. Se ele não quiser ir pra minha casa, eu vou tentar no carro e eu…eu vou ficar louco se ele não quiser ir pra minha casa”. A ereção da mulher é ainda mais forte porque não tem fim. É no buraco da existência Ele pede o décimo café e quer falar mais e contar mais. E encosta em mim, gosta de sentar colado, e fala ao meu ouvido, e mexe no meu cabelo. Me adore, eu sou ator, me adore. Sim, querido, muito, muito. Em casa, ele deita no sofá, sou sempre eu que tenho que começar tudo. Eu que faço a massagem, o carinho, eu que mordo, assopro, lambo e mais esse monte de coisa. Quase tenho saudade da entrega perfeccionista que só os feios e os pobres têm como qualidade. Mas passa rápido. Ele pede, reclama, dorme, acorda, pede mais. Sim, querido. Deixa tudo comigo, apenas exista. Pessoas como você apenas precisam existir e nada mais, pessoas como você podem tudo, até escrever almocei com ç. Aliás, você tem razão, almoçei é a coisa mais linda que já vi na minha vida.

ex mulher

Ela passou o primeiro dia empacotando todos os seus pertences em Caixas, engradados e malas.

No segundo dia, ela chamou os homens da transportadora que levaram a mudança.

No terceiro dia, ela se sentou pela última vez na bela mesa da sala de jantar, à luz de velas, pôs uma música suave e se deliciou com uns camarões, um pote de caviar e um garrafa de Chardonnay.

Quando terminou, foi a cada um dos aposentos e colocou alguns pedaços de casca de camarão, besuntados com caviar, dentro dos varais das cortinas.

Depois ela limpou a cozinha e se foi.

Quando o marido retornou com a nova namorada, tudo estava um brinco nos primeiros dias.

Depois, pouco a pouco, a casa começou a feder.

Eles tentaram de tudo: limpando, lavando e arejando a casa.

Todas as aberturas de ventilação foram verificadas à procura de possíveis ratos mortos e os tapetes foram limpos com vapor.

Desodorantes de ar e ambiente foram pendurados em todos os lugares.
A empresa de combate a insetos foi chamada para colocar gás em todos os encanamentos, durante alguns dias, durante os quais tiverem de sair da casa, e no fim ainda tiveram de pagar para substituir o caríssimo carpete de lã.

Nada funcionou.

As pessoas pararam de visitá-los.

Os funcionários das empresas de consertos se recusavam a trabalhar na casa.

A empregada se demitiu.
Finalmente, eles não suportavam mais o fedor e decidiram se mudar.

Um mês depois, apesar de terem reduzido o valor da casa em 50%,eles não conseguiram um comprador para a casa fedorenta.

A notícia se espalhava e nem mesmo corretores de imóveis locais retornavam as ligações.

Finalmente, eles tiveram de fazer um grande empréstimo do banco para comprar uma casa nova.

A ex-esposa ligou para o marido e perguntou como andavam as coisas.

Ele disse a ela o martírio da casa podre.

Ela escutou pacientemente e disse que sentia muitas saudades da casa antiga e que estaria disposta a reduzir a parte que lhe caberia do acordo de separação dos bens em troca pela casa.

Sabendo que a ex-mulher não tinha idéia de como estava o fedor, ele concordou com um preço que era cerca de 1/10 do que valeria a casa.

Mas só, se ela assinasse os papéis naquele dia mesmo.

Ela concordou e em menos de uma hora, os advogados deles entregavam os documentos.

Uma semana depois, o homem e sua namorada assistiam, com um sorriso malicioso, os homens da mudança empacotando tudo para levar para a sua nova casa …incluindo os varais das cortinas.

ninguém mais namora as deusas mulheres

Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais. É isto mesmo. Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha? As mulheres não são mais para amar; nem para casar. São para “ver”. Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones? Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não estão preparados… As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-espectadores se sentem apavorados e murchos diante de tanta gostosura. Os machos estão com medo das “mulheres-liquidificador”. O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas ou irmãs almejam ser (meu Deus!), é a prostituta transcendental, a mulher-robô, a “Valentina”, a “Barbarela”, a máquina-de-prazer sem alma, turbinas de amor com um hiperatômico tesão. Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres? Não os há. Os “malhados”, os “turbinados” geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de mercado que as criou. Ou, então, reprodutores como o Zafir, para o Robô-Xuxa. A atual “revolução da vulgaridade”, regada a pagode, parece “libertar” as mulheres. Ilusão à toa. A “libertação da mulher” numa sociedade escravista como a nossa deu nisso: Superobjetos. Se achando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor, carinho e dinheiro. São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades. Mas, diante delas, o homem normal tem medo. Elas são “areia demais para qualquer caminhãozinho”. Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens. Eles vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, decadentes, a meia-bomba, ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo charme “jamesbondiano” dos anos 60. Não há mais o grande “conquistador”. Temos apenas os “fazendeiros de bundas” como o Huck, enquanto a maioria virou uma multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis. Ah, que saudades dos tempos das bundinhas e peitinhos “normais” e “disponíveis”… Pois bem, com certeza a televisão tem criado “sonhos de consumo” descritos tão bem pela língua ferrenha do Jabor (eu). Mas ainda existem mulheres de verdade. Mulheres que sabem se valorizar e valorizar o que tem “dentro de casa”, o seu trabalho. E, acima de tudo, mulheres com quem se possa discutir um gosto pela música, pela cultura, pela família, sem medo de parecer um “chato” ou um “cara metido a intelectual”. Mulheres que sabem valorizar uma simples atitude, rara nos homens de hoje, como abrir a porta do carro para elas. Mulheres que adoram receber cartas, bilhetinhos (ou e-mails) românticos!! Escutar no som do carro, aquela fitinha velha dos Beegees ou um cd do Kenny G (parece meio breguinha)…mas é tão boooom namorar escutando estas musiquinhas tranquilas!!! Penso que hoje, num encontro de um “Turbinado” com uma “Saradona” o papo deve ser do tipo: -”meu”… o meu professor falou que posso disputar o Iron Man que vou ganhar fácil!.” -”Ah “meu”..o meu personal Trainner disse que estou com os glúteos bem em forma e que nunca vou precisar de plástica”. E a música??? Só se for o “último sucesso (????)” dos Travessos ou “Chama-chuva…” e o “Vai serginho”???… Mulheres do meu Brasil Varonil!!! Não deixem que criem estereótipos!! Não comprem o cinto de modelar da Feiticeira. A mulher brasileira é linda por natureza!! Curta seu corpo de acordo com sua idade, silicone é coisa de americana que não possui a felicidade de ter um corpo esculpido por Deus e bonito por natureza. E se os seus namorados e maridos pedirem para vocês “malharem” e ficarem iguais à Feiticeira, fiquem… igual a feiticeira dos seriados de Tv: Façam-os sumirem da sua vida!


-Arnaldo Jabor

a espera

Atrás da pista tem um bar e atrás do bar tem um sofá. Estou sentada nesse sofá. Aguardo ansiosa por algo, olho as horas no celular, checo o e-mail pelo Iphone, reclamo com minha amiga “tá demorando”. Ela me pergunta se é o show, se é a menina passar com a comida. O que é? Não sei. Mas tá demorando. Em cima do bar, no teto, tem um daqueles globos que sempre tem. Olho pro globo e penso que estou uma eternidade sentada naquele sofá. Mais de trinta anos? Descanso os cotovelos nos joelhos e me arrependo, enquanto todos querem ver e ser vistos, eu fico nessa posição feia de vaso sanitário. Minha amiga vai fumar. Eu me animo “já tenho pra onde ir”. Eu não fumo, eu odeio cigarro, eu odeio atravessar a festa inteira pra chegar até lá fora, eu odeio a amizade instantânea das rodinhas de fumantes que não se conhecem, eu odeio festas em geral, eu odeio papos de festa, eu odeio conhecer gente que não tem nada a ver comigo, e sorrir para os papos mais furados do mundo. Mas eu já tenho pra onde ir. E vou. E ao chegar lá fora, continuo achando que está demorando. Sinto falta do sofá agora. Mas quando minha amiga acabar o cigarro, eu já terei novamente pra onde ir. E assim uma festa chata me lembra muito a vida. A eterna oscilação entre ir lá fora ver e voltar pro sofá, sempre só pra ter pra onde ir. Chegou agora um ex amor. Ele entra com sua esposa. Ele me abraça enquanto ela segue em frente sem olhar pra trás. Faz aí uns 3 ou 4 anos que não damos um abraço. A gente sempre fugia das festas pra fazer sacanagem no carro dele. Não sinto saudade. Passou, faz tempo, não sinto nada. Nada. Talvez só sinta mais claro o que eu já sentia antes. Antes de sair de casa. Antes de ficar indo do fumódromo pro sofá e vice-versa. Eu só sinto agora, com esse abraço que não me fez sentir nada, com mais clareza, o que eu já sentia antes e muito antes de antes. Eu sinto que está demorando. Eu olho de novo no celular. Eu posso ir ao banheiro e isso já é um lugar para ir. Me animo. Não, não me animo. Tudo me deprime. Eu ficar chupando a barriga pra dentro pra esconder que tenho um pouquinho de pança, eu ficar me equilibrando no salto, eu ficar fazendo minha cara de “não encosta em mim”. Tudo me deprime. As pessoas falando de trabalho, as pessoas forçando falar qualquer absurdo só porque o óbvio seria falar de trabalho. E principalmente: o grupinho de moças muito altas e muito loiras que não trabalham mas estão lá porque estar nesses lugares é o trabalho delas. Tudo é tão chato mas eu fiz cabelo e maquiagem. Antes da meia noite não dá pra ir embora. Preciso me gastar um pouco pra não dormir tão antes de tudo dar errado. Eu sei, eu deveria beber. Mas pra quê? Pra achar essas pessoas legais? Pra suportar o insuportável? Sou cínica demais pra dar esse gostinho ao mundo. E eis que adentra à festa o rapaz que, não faz nem uma semana, me pedia que eu não fosse ainda, só mais um pouquinho, espera amanhecer, porque, depois, você sabe, dá tanto sono. De mãos dadas com a moça que vive dando entrevista dizendo que eles se comem mesmo, o tempo todo. E isso não me dói em nada. Foi só um moço muito bonito que durou uma semana. Mas ele também reforça meu pé inquieto batendo ritmadamente: será que demora? Não sei. Não, não demora mais. Olho pra porta e ele acabou de chegar. Eu fui na festa por causa dele. Então era isso, eu tava esperando o tal do moço que me convidou pra festa. E então ele fala comigo e encosta um pouco em mim e eu penso em ser muito honesta. Olha, fulano, eu acho tudo isso um saco, sabe? Eu odeio a cordialidade dos bichos. Todo mundo se elogia, fala de trabalho, conhece gente, faz piadinha ruim. Mas tá todo mundo pensando o que vai ter pra comer e também pra comer. Eu vim aqui porque, sei lá, desde que te vi na reunião e eram oito da noite e você estava muito cansado mas, mesmo assim, você estava muito cheiroso e falou coisas muito inteligentes, eu fiquei a fim de te beijar na boca. Então, dá pra pedir pra esse bando de amigo chato, que fica puxando seu saco, desaparecer do mapa? A menina com a perna gorda pode, por favor, nos deixar em paz? Você pode, por favor, parar de mexer no cabelo da minha amiga e parar de dar risadinha no ouvido dela e sumir daqui comigo? Não, ele não pode. Ele não é a resposta. Ah, Tati. Você deveria saber. Eles nunca são a resposta. Nunca foram. Que é que você quer? Por que você olha tanto pro celular? Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz? Não. Ninguém é a resposta. Nem o sofá, nem a festa, nem ficar em casa, nem a água com gás, nem olhar com nojo para o grupo de piriguetes vips que não prestam pra nada a não ser frequentar festas para sair em revistas e angariar empresários. Finalmente já tenho o que esperar: o carro. Finalmente já tenho o que fazer: ir embora. Na verdade a única coisa que estou sempre esperando e querendo é ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Eu não estou esperando nada a não ser o tempo todo sair de onde eu estou

frases de filme

Parte de mim dói ao pensar que ela está tão perto e eu não posso tocá-la, mas nossas histórias seguiram caminhos diferentes. Não foi fácil aceitar essa verdade simples, pois houve um tempo em que nossas histórias eram uma só, mas isso aconteceu seis anos e duas vidas atrás. Nós dois temos lembranças, é claro, mas aprendi que as memórias podem ter uma presença física, quase viva, e nisso ela e eu também somos diferentes. Enquanto as lembranças dela são estrelas no céu noturno, as minhas compõem o assombrado espaço vazio entre elas.


- Querido John

frases de filme

Algumas vezes na vida, existem aqueles laços que uma vez formados, nunca poderão ser quebrados. Algumas vezes você poderá encontrar uma pessoa que vai ficar ao seu lado independentemente do que acontecer. Talvez, você encontre isso em um esposo (a) e celebre isso com o casamento dos seus sonhos, mas existe também a chance de que a pessoa com quem você poderá contar eternamente, a única pessoa que te conhece melhor do que você mesmo, é, aquela mesma pessoa que estava ao seu lado o tempo todo.


- Noivas em Guerra

frase do dia

Talvez o final feliz, seja só seguir em frente.

- ele nao está tão afim de você

frases de filme

- Ela te ligou e disse eu te amo?
- É.
- E você mandou ela ir se danar?
-É.
- Você é tão idiota quanto eu pensava!
- Mas a minha vontade foi de dizer 'eu também te amo'

cazuza

O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idéia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como as borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não dói.